Máquina do Tempo do Geraldo
Por volta de 2010, eu era um jovem estudante de Graduação em Química no Instituto Federal do Rio de Janeiro e tinha uma grande admiração por um professor em especial. Geraldo era responsável pela disciplina de Gestão Empresarial (ou algo semelhante). O diferencial das suas aulas era que ele ia além do conteúdo técnico e abordava temas como liderança, organização, planejamento e desenvolvimento pessoal. Mas, o que realmente tornava suas aulas especiais era ele próprio.
Sempre fui do tipo de aluno que guarda boas lembranças dos professores que marcaram minha trajetória, e Geraldo certamente foi um deles. Ele se permitia fugir da ementa para nos levar a reflexões filosóficas, lições de vida e provocações instigantes. Além disso, os bate-papos no fim das aulas eram tão bons que, por pouco, não me faziam perder o último metrô, que saía às 23h.

O tempo passou, como sempre, e as conversas com Geraldo ficaram guardadas na memória. Até que, um dia, recebi uma notícia triste pelo Facebook: o querido professor havia falecido repentinamente, vítima de um infarto fulminante. Foi um choque. Junto com a notícia, veio um detalhe curioso: ele faleceu na rua, carregando uma mochila pesada, cheia de cartas destinadas aos seus alunos.
Geraldo tinha um hábito especial: incentivava seus alunos do ensino médio a escreverem cartas para suas versões futuras, que ele próprio enviaria 20 anos depois. Encontrei até uma matéria do fantástico, que fala um pouco sobre essa iniciativa incrível.
Esse ano, resolvi homenagear meu professor e participar dessa dinâmica. Já conhecia versões mais tecnológicas, como o envio programado de e-mails para o futuro, disponível em muitos provedores de e-mail. Basta escrever, agendar o envio e, um dia, sua versão futura recebe uma mensagem vinda diretamente do passado. Uma verdadeira máquina do tempo pessoal.
Meu recado para mim
Peguei papel e caneta e comecei a escrever. Diferente do que imaginei, as palavras fluíram com facilidade. Escolhi um período de 10 anos – nem sei bem por quê. Escrever para mim mesmo foi uma experiência menos estranha do que pensei; me senti como um conselheiro livre de julgamentos. Afinal, se o conselho for ruim, o único prejudicado serei eu.
Uma reflexão interessante sobre essa prática é que, na primeira etapa, o foco está no presente e no futuro. Depois, ao receber a mensagem, o foco se volta para o passado e, se entendermos bem a brincadeira, também para o presente.
Em alguns momentos, senti vontade de chorar. Esse exercício nos faz pensar que algumas pessoas ao nosso redor hoje talvez não estejam mais presentes no futuro. Imaginar meus filhos já crescidos também me emocionou profundamente.
Depois da parte emocional, veio a dos planos e sonhos – e aqui está a grande sacada desse exercício. Todos nós mudamos, isso é um fato. Para o Jairo de sete anos atrás, essa ideia não era tão clara. Eu estava imerso em palestras sobre essência, propósito de vida e carreira.
Hoje, percebo que poderia sim me beneficiar de uma mensagem daquele Jairo do passado. Poderia fazer conexões, ter insights ou entender algo do presente sob uma nova perspectiva.
“Experimente a dinâmica da carta para o seu eu futuro.”
Vai ser interessante pra você hoje, refletir sobre sua vida. Assim como para o você do futuro, se emocionar com tudo isso.
Uma das minhas mudanças foi, inclusive, parar de fazer listas de sonhos . Mas, ao revisitar listas antigas, percebi que muitas coisas realmente aconteceram – e isso é incrível. Aliás, essa é uma outra forma de viajar no tempo, adquirir o hábito de escrever em um diário e, tempos depois, voltar nos escritos.
Estrutura da carta:
[CARTA PARA O EU FUTURO – VERSÃO 2025]
O que de mais importante quero que meu eu do futuro saiba;
O que espero que aconteça na minha vida;
Lista de sonhos;
Lista de próximos passos profissionais (separados entre os que realmente quero e as menções honrosas).
Dica de série sobre viagem no tempo:
Dark (Netflix)
Dark é uma série alemã da Netflix, lançada em 2017, que combina ficção científica, mistério e drama familiar. A trama gira em torno do desaparecimento de crianças na pequena cidade de Winden, revelando segredos obscuros e conexões entre quatro famílias ao longo de diferentes períodos de tempo. A história envolve viagens no tempo, paradoxos temporais e um ciclo de acontecimentos que se repetem através de várias gerações. (Chat GPT)
Um forte abraço, se cuida e produza o seu melhor.
Eu faço cartas para a Andrea do futuro. Eu também vou até o futuro e escrevo conselhos para a minha versão atual. E já escrevi cartas para meu eu do passado. Inclusive, um dia achei um bilhete dentro de um livro que eu não me lembrava de ter escrito – era um bilhete para a Andrea de 34 anos que acabara de ficar viúva e eu dizia algo como "a tempestade vai passar". Aquele bilhete me emocionou muito pq, de fato, passou.
Essa edição me inspirou muito a trazer esse exercício para a Equilibrium, minha News de autoconhecimento, propósito de vida...
Adorei a foto da "máquina do tempo" tbm 👏🏽👏🏽 Há alguns anos eu assisti Dark e achei muito bom!